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Até quando a Economia suja do Petróleo/Pré-Sal persistirá?


Climaco Cezar de Souza
Na semana anterior, dois artigos sobre o futuro energético/econômico assombraram o Mundo petrolífero, mas alegraram muito os ambientalistas e a maioria do povo. 
Embora nem com tanta novidade, desta vez ambos versavam e apresentavam provas indiscutíveis sobre a progressiva redução da dependência Mundial por energias sujas (inclusive já com redução/re-adaptação de milhares de empregos) e o aumento rápido da importância das chamadas energias limpas e renováveis (algumas nem tão sustentáveis ou justas como o etanol de milho comestível ou mesmo de parte da cana-de-açúcar e ainda da soja, da canola e de outros alimentos/rações plantados para a produção de biodiesel).
A questão agora é determinar quando, como e onde ocorrerá mais esta transição energético-econômica e ambiental e de forma menos traumática possível para pessoas e países. 
Na verdade, isto já está ocorrendo e ampliará rapidamente seus resultados (com certeza, negativos, para empresas teimosas, países despreparados e algumas pessoas descrentes) e seus efeitos positivos para o meio-ambiente de todos e para a economia de alguns, embora quase nada aceitos pelos que defendem economias sujas. São “mudanças visíveis, mas que muitos não querem ver”.
No Mundo, pode ser que a elevada dependência atual para a produção de calor nas residências, vapor industrial e transporte pesado consiga sustentar a oferta de derivados de petróleo e gás natural por mais algumas décadas, mas apenas isto e em alguns países com custos menores e se não sobrevierem concorrentes mais efetivos mais limpos mais eficazes e mais baratos (como aquecimentos apenas com syngas barato de lixo urbano com 48% de hidrogênio e apenas 8% de metano ou mesmo geração de energia, calor ou força motriz com hidrogênio). 
Segundo analistas e críticos internacionais, a forte queda do preço do petróleo cru de Us$ 122 barril/FOB Dubai em março/2012 para apenas Us$ 43/barril FOB em julho/2016 ainda decorre de certa intenção e ações da OPEP e de outros países para derrubar a competitividade externa e interna do barato petróleo de xisto e também do etanol de milho dos EUA, o que de fato ocorre, pois muitas empresas fecharam ou estão fechando. Pior é que com a competição em crescimento pela oferta cada vez maior das energias limpas, dificilmente, os preços do petróleo futuro conseguirão alcançar e se manter acima de US$ 75/barril, segundo diversos analistas, e mesmo com novo controle da oferta. 
A meu ver, trata-se de uma proposta errônea e até burra de tentar reduzir e controlar a maior oferta de energia apenas por alguns (reduzindo e nivelando os preços ate seus custos de produção), enquanto se esquecem do muito pior que é a já certa redução continuada da demanda global por petróleo mais seus derivados, carvão e gás natural.
Assim, o que farão para proteger suas economias e seus empregos países altamente dependentes de produzir e exportar petróleo mais seus derivados e/ou gás, como a Rússia, Azerbaijão, EUA, México, Canadá, Noruega, Países do Oriente Médio, Bolívia, Venezuela, Angola, Nigéria e até o Brasil?
Vide: “Os países exportadores de petróleo, da abundância à tensão econômica” -
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/06/economia/1454784492_068929.html
Por outro lado, como o Mundo poderá esquecer e abandonar fontes crescentes de importância e muito mais limpas, renováveis e mais baratas como as energias eólica, solar, do hidrogênio, do lixo urbano, das biomassas, das marés etc? A maioria é sustentável (exceto o etanol de cana e de milho, biodiesel de soja ou de canola etc..), mas quase todas são renováveis.
Como deter os modernos e eficientes automóveis elétricos e os movidos a hidrogênio ou a Syngas e outras fontes?
Para o Brasil, embora muitos – sobretudo do Governo e da Cátedra - digam que estamos em bom patamar renovável e sustentável de energias limpas, até como exemplo mundial, esta mesma sustentabilidade corrente é questionável à luz das exigências alimentícias futuras pela ONU mais de não-degradação (desertificação) de solos e da água (corrente e dos aqüíferos). Apenas as energias limpas são nosso bom exemplo, mas temos um histórico terrível de degradação de solos e da água (inclusive com progressivos assoreamentos gigantes e morte crescente de nascentes) mais de incorreta destinação dos esgotos e do lixo urbano (quatro assuntos desafiadores e que abordaremos no próximo artigo).
Também, no Brasil, ainda não é possível dizer até quando e como o petróleo do nosso pré-sal e de outras fontes marinhas ou terrestres será competitivo e até útil para o povo. Pode ser que a transição completa socioeconômica no Brasil demore ainda mais do que nos outros países, tudo a depender do custo relativo do óleo do pré-sal (sabidamente muito baixo) e, melhor, dos benefícios/custos dele advindos. 
Pode até ser que nosso futuro balanço ambiental de energias renováveis, hoje comprovadamente limpo e positivo, seja contrabalançado negativamente pela necessidade socioeconômica de explorarmos integralmente o pré-sal mesmo que mais para exportações (passaríamos de heróis a bandidos no Mundo ambiental).
EM NÍVEL MUNDIAL, DE QUALQUER FORMA, ATÉ QUANDO A ECONOMIA SUJA DO PETRÓLEO E DE SEUS DERIVADOS PERSISTIRÁ? 
A única verdade mundial atual é que já é impossível deter o avanço desta nova revolução industrial, econômica e ambiental, das energias limpas e sustentáveis, aliás, uma exigência e bandeira da ONU à vista das mudanças climáticas em curso e para desespero das populações (algo novo e mudança de paradigmas até inesperados neste momento pela forma social que já migra, rápida e fortemente, de sociedade “fechada/poupadora/coletiva” para sociedade “globalizada/consumista/egoísta”). 
Ou será que até que enfim, poderemos ter o inicio real do respeito social e da harmonia, previstos naquele livro filosófico e futurista “Admirável Mundo Novo” do inglês Aldous Huxley em 1932? Mas, sem a morte do amor e sem as tais castas pessoais ou familiares previstas (idéia já superada e em declínio também na moderna Índia, onde o Governo cita que não existe após serem abolidas na Constituição de 1949). 
Também, em termos de posse de bens tangíveis ou intangíveis, a máxima filosófica mundial atual e futura de que “ninguém é de ninguém” parece que já substituiu a proposta Huxley de “cada um pertence a todos” (na verdade, também uma extremização do coletivismo socialista e totalmente em prol apenas da economia e da produtividade do trabalho e não das pessoas e do seu ambiente).
Pode parecer que não, mas as filosofias e as previsões acima de Huxley têm tudo a ver com o presente e o futuro energético, econômico e ambiental mundial.
Vide alguns INFORMES e PEDIDOS SOCIOAMBIENTAIS da ONU em português: 
1)    “Poluição do ar nas cidades aumenta 8% e mata 7 milhões de pessoas por ano, alertam agências da ONU” -
https://nacoesunidas.org/poluicao-do-ar-nas-cidades-aumenta-8-e-mata-7-milhoes-de-pessoas-por-ano-alertam-agencias-da-onu/ 
2)    “Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos (até 2030)” -
https://nacoesunidas.org/pos2015/ods7/
3)    “Ações de governos podem reverter a degeneração acelerada do meio ambiente (lixo urbano), diz ONU” -
https://nacoesunidas.org/acoes-de-governos-podem-reverter-a-degeneracao-acelerada-do-meio-ambiente-diz-onu/ 
ARTIGOS CITADOS ACIMA (resumos):
1)    “A prevista morte rápida do diesel, do carvão, do gás, de parte do setor automotivo e dos empregos e da renda na Europa” - 
Conforme artigo da semana passada do Sistema de analises mundiais “Bloomberg-Gadfly” com 2.400 analistas e jornalistas especializados, liderados por Timothy L. O'Brien: “o Diesel está morrendo e o funeral será caro” e pode levar consigo parte do setor automotivo europeu”.
“Existe um risco real de que o setor automotivo da Europa tenha que fazer a baixa contábil de investimentos.” “Esse perigo é grave na Europa porque as normas sobre a emissão de dióxido de carbono são mais rigorosas do que nos EUA”. “Embora mais de metade dos veículos vendidos no continente tenham motores a diesel, consultores da Alix Partners projetam que essa proporção será de apenas 9% em 2030. As fábricas de motores de combustão vão fechar”.
“Como o fim do diesel parece inevitável, funcionários e investidores enfrentarão um choque elétrico”.
“Segundo o novo chefe da VW, Matthias Müller, pode chegar um momento em que já não valerá a pena investir em diesel. O chefe da BMW, Harald Krüger, diz algo parecido”. 
“O ideal seria que as fabricantes de automóveis interrompessem logo os investimentos em carros a diesel, mas não têm alternativas, pois somente com carros elétricos a União Européia não tem como cumprir a sua meta de não-emissões previstas para 2021”.
Por outro lado, “os sindicatos exigirão que as fabricantes de automóveis preservem os empregos, então algumas devem tentar transformar as fábricas de motores de combustão em produtoras da tecnologia elétrica. A VW é uma das empresas que está analisando investimentos na produção de baterias”. Contudo, “a produção de baterias não exigirá muita mão de obra, do contrário os custos não cairiam o suficiente para que os veículos elétricos fossem econômicos”.
“Na Europa, também as usinas a carvão e a gás natural ficarão encalhadas por causa do surgimento da energia solar e eólica, o que já provoca prejuízos de bilhões de euros”.
“Para a Bloomberg New Energy Finance, em 2022, o custo de ter um veículo elétrico será menor que o custo de ter um veículo de combustível tradicional”. “Até mesmo a Volkswagen afirma que um quarto de suas vendas será composta por veículos elétricos por volta de 2025”.
Vide artigo completo em português em: 
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/5479066/diesel-esta-morrendo-funeral-sera-caro-gadfly
2) “O Brasil tem a melhor sustentabilidade energética limpa mundial, mas os outros países, mesmo com maiores dificuldades, precisam descarbonizar rapidamente suas economias para determos o aquecimento global” (resumo de artigo de 17/08/2016, transcrito de forma completa a seguir). 
“A SUSTENTABILIDADE DA ENERGIA” de autoria do renomado Prof. Dr. Evaristo Eduardo de Miranda da EMBRAPA Monitoramento por Satélite. 
Vide em: https://www.embrapa.br/web/mobile/noticias/-/noticia/15486525/artigo---a-sustentabilidade-da-energia
“A fonte de 68% da energia renovável no País, que garantiu 28% da matriz energética brasileira em 2015, é a agropecuária. Um caso único no mundo para um país industrializado e com as dimensões territoriais do Brasil. Além disso, no ano passado, pela primeira vez a geração de eletricidade de origem eólica ultrapassou a de origem nuclear. Foram 1.859.750 toneladas equivalentes de petróleo (TEP) asseguradas pelos ventos, ante 1.267.124 TEP geradas por usinas nucleares, segundo o sempre excelente Balanço Energético Nacional (BEN), recém publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE)”.
“A geração da energia nuclear mantém-se constante há anos. E não houve, nem haverá no curto prazo, nenhum aumento do parque nuclear. Já o setor eólico se beneficia de numerosos incentivos, cresceu 77% em um ano e seguirá crescendo. Mas a contribuição das eólicas na matriz energética ainda é pequena: 1,3%. Esse marco histórico das eólicas passou quase despercebido, assim como o papel da agricultura na geração de energia renovável”.
“A participação da energia renovável na matriz energética nacional foi de 41,2% em 2015. Um recorde fantástico. E já chegou a mais de 45% em alguns anos, em função de fatores climáticos, da economia, etc. A média mundial de energia renovável nas matrizes energéticas é de apenas 13,5%. Essa contribuição é ainda menor nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): 9,4%. Ou seja, nas nações desenvolvidas mais de 90% da energia é suja, vinda em geral de petróleo, gás e carvão mineral. Isso pode ser avaliado nas emissões de CO2”.
“Cada brasileiro emite sete vezes menos CO2 do que um americano e três vezes menos do que um europeu ou um chinês, apesar da enorme população da China. Graças às energias renováveis, na produção de 1 MWh o setor elétrico brasileiro emite três vezes menos CO2 do que o europeu, quatro vezes menos do que o norte-americano e seis vezes menos do que o chinês”.
“Além de grande produtora de alimentos e fibras, a agropecuária nacional ampliou em magnitude única no planeta sua capacidade de gerar energia. A agricultura brasileira produz combustíveis sólidos (lenha e carvão vegetal), líquidos (etanol e biodiesel), gasosos (biogás e gás de carvão vegetal) e energéticos (co-geração de energia elétrica e térmica com subprodutos agrícolas, como bagaço de cana-de-açúcar, lixívia, palhas, cavacos, etc.)”.
“Só os produtos energéticos da cana-de-açúcar garantiram 16,9% do total da energia consumida no Brasil em 2015, uma contribuição superior a todas as hidrelétricas juntas (11,3%)! Lenha e carvão vegetal contribuíram com 8,2%, ajudando a mover caldeiras e fornos, desde os das padarias e pizzarias até os das siderúrgicas de ferro gusa. Por fim, biodiesel, lixívia, biogás e outros resíduos asseguraram 3,1% de nossa matriz energética. Hoje, só o sebo de boi – um resíduo de frigoríficos – garante cerca de 20% da produção de biodiesel. O resto vem dos óleos vegetais, sobretudo de soja.
“Para produzir alimentos, fibras e energia a agricultura brasileira consome energia na matriz (diesel para suas máquinas, energia elétrica, etc.). Quanto? 4,4%, segundo os dados do Balanço Energético Nacional. E ela devolve 28%”.
“A agricultura é o setor que menos consome energia e 4,4% é para toda a agropecuária: produção de alimentos, fibras e energia. O consumo específico para gerar energia é bem menor. Uma série de detalhamentos acerca do desempenho energético de várias cadeias produtivas está sendo calculada pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa. Nos dados do BEN 2015, a geração de energia (hidrelétricas, termoelétricas, usinas nucleares) consumiu 10,7% da energia da matriz”.
“A agroenergia é o resultado da transformação da energia solar em energia química pelas plantas. França, Japão ou Canadá poderiam produzir 28% de sua matriz energética com sua agricultura, como faz o Brasil?”.
“Provavelmente, sim, mas consumiriam mais de 50% em sua matriz energética para realizar tal "feito". Por quê? O clima limita a geração de agroenergia em países temperados. Em altas latitudes a fotossíntese só é possível na primavera-verão, de três a cinco meses, com cultivos de ciclo curto, como milho ou beterraba”.
“Já em países tropicais, com temperaturas elevadas, a fotossíntese é possível praticamente o ano todo, com cultivos de ciclo longo, como cana-de-açúcar, dendê, mandioca. Um campo de cana-de-açúcar ou de dendê é uma das mais eficientes e rentáveis usinas solares existentes”.
“Aqui, ganhamos mesmo em culturas de ciclo curto (soja, milho, girassol), pois é possível garantir duas colheitas em um ano (safras de verão e inverno). Outros países tropicais poderiam produzir mais energia renovável. Mas não o fazem. Além da geografia, é fundamental usar uma tecnologia agrícola tropical inovadora – e, nisso, o Brasil é reconhecidamente um líder mundial”.
“A contribuição da agroenergia na matriz energética brasileira continuará crescendo. E já seria maior se políticas erráticas e erradas não tivessem vitimado o etanol”.
“O uso eficiente de resíduos e a integração produtiva levarão a novos saltos tecnológicos, como etanol de segunda geração e gaseificação de palhas. Com novas hidrelétricas em funcionamento, mais o crescimento da agroenergia, das eólicas e da energia fotovoltaica, o País poderá atingir 50% da matriz energética com fontes renováveis. Já somos uma das economias de mais baixo carbono do planeta. Podemos melhorar, mas os países desenvolvidos precisam avançar – e muito – na descarbonização de suas economias para chegar perto do que fazemos”. 
“Quando o assunto é meio ambiente, como enfatiza o atual ministro da Agricultura, o agronegócio brasileiro é muito mais solução do que preocupação”.

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