CI

A casa no campo que imaginamos e a realidade


Antonio Carlos Moreira
Eu quero uma casa no campo. Esta é frase que inicia a canção do compositor Zé Rodrigues, em parceria com Tavito, eternizada na voz da cantora Elis Regina. José Rodrigues Trindade, falecido em 2009, faria aniversário hoje, 25 de novembro. 
Uma aprazível vida campestre recheia as melhores recordações daqueles que tiveram a infância rural, ou faz parte dos desejos de sempre da maioria de nós, que crescemos nos meios urbanos. Atados ao cotidiano agitado, convivendo com o conforto das modernidades e das opções de lazer – mas sem tempo para usufruí-las –, sonhamos com o repouso, nos fins de semana pelo menos, de uma casa no campo. 
Muitos de nossos pais, e mesmo de nossa geração, nascemos e vivemos no meio rural até que, certo dia, cumprimos o êxodo rumo às grandes cidades. Amamos a vida nas capitais e cidades urbanas, mas idealizamos a vida no campo. Onde, como imaginou Zé Rodrigues em sua música, haja “carneiros e cabras pastando, solenes, no jardim”. 
Homenagem seja feita a um grande mestre da música sertaneja, Athos Campos, que já em 1939, com apenas dezesseis anos de idade, criava – com o amigo Antenor Serra, o Serrinha – , a histórica canção “Chitãozinho e Xororó” (isso mesmo, o nome da música). Esta talvez seja a primeira elegia ao campo comparando-o à cidade: “Eu não troco meu ranchinho, amarradinho de cipó, por uma casa na cidade, nem que seja bangalô”.
Um ranchinho longe da cidade, que nos alegra, como escreveu Athos Campos, “quando pia, lá praqueles cafundo, é o inhambu-xinta e o xororó”, e onde possamos, como sonhava Zé Rodrix, “plantar e colher, com a mão, a pimenta e o sal”. A vida rural tem todas as virtudes cantados nessas canções, mas também traz complexos desafios, não existentes na época de Athos Campos, nem percebidos pelo aniversariante de hoje, Zé Rodrix, em sua singela canção. 
No ano de 2050 – ou seja, logo aí, na linha do tempo acelerado dos dias atuais – seremos no planeta 9,3 bilhões de habitantes. Disputaremos os recursos naturais de forma cada vez mais dramática, pois a demanda humana cresce em ritmo exponencial. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, para que a população mundial tenha alimentos no ano de 2050, a produção agrícola deverá aumentar em 70%. Tal realidade aponta que a sociedade não pode se prender ao falso dilema “preservar ou desenvolver”. Para o futuro da humanidade, ambos os rumos são inexoravelmente necessários. 
O caminho-chave é a produção de alimentos, fibras e fontes renováveis de energia de forma sustentável. Dos discursos à prática, a única saída possível será por meio de uma agricultura regida pelas inovações tecnológicas que a ciência incorporou no campo de forma admirável nos últimos anos. Estas não se contradizem com a “casa no campo” que almejamos, ao contrário, agregam ao nosso sonho de dias melhores de sossego. Afinal, nos dias de hoje, não é mais necessário “plantar e colher com a mão”.
Vale a pena recordar:
“Chitãozinho e xororó”, canção de Athos Campos e Serrinha, interpretada por Tonico e Tinoco: https://youtu.be/1AoqQbn0hKI
“Casa no campo”, de Zé Rodrix e Tavito, interpretada por Elis Regina: https://youtu.be/1edqNf1AYBE

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.