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“O desafio é a nossa energia”


José Osvaldo Bozzo
Se por um lado a Petrobrás tem como slogan “o desafio é a nossa energia”, por outro, o setor sucroalcooleiro parece ter como propaganda a frase “o desafio é a nossa sobrevivência”.
A inovação ou criação de novas tecnologias de um “novo mundo” voltado apenas para o chamado etanol não deve acontecer, salvo se houver uma mudança positiva dos agentes públicos, econômicos e privados, que detém sua participação na gestão do setor dessa economia. Isso, pois a forma e os modelos que estão sendo geridos pelo poder público e privado estão ultrapassados e não respaldam o suficiente para aquilo que foi pensado há décadas, quando foram desenhados um único negócio para aquela época, como sendo uma situação acessória e integrante no cenário sucroalcooleiro.
Pela representatividade que o etanol ainda possui, é premente um ajuste na política energética por razões estratégicas, ou seja, uma revisão na formulação de um novo modelo, a fim de que o processo possa seguir seu rito de expansão. E não só em relação ao etanol. Já dissemos e vamos reiterar que o setor tem um imenso potencial ainda pouco explorado que é a cogeração de energia elétrica, derivada da queima do bagaço da cana-de-açúcar: mais uma fonte de energia, dentre outras primárias, que compõem a nossa matriz energética brasileira.
INVESTINDO - Havia no passado, segundo estudos feitos por especialistas, que novos investimentos seriam realizados na matriz energética até 2030, na ordem de US$ 804 bilhões, em que 4% deste valor caberia ao setor sucroalcooleiro. Porém, aparentemente, o cenário atual nos direciona para outra realidade, com números bem aquém, se é que chegarão perto disso. Sem falar que, se considerarmos a intensa busca por fontes renováveis, em decorrência de problemas atrelados à questão climática, seria para sermos e termos uma extraordinária potencialidade na produção de biomassa. Ou seja, pensando bem, os números dados anteriormente ainda são moderados.
MERCADO HOJE - O modelo atual é marcado por decisões ainda tímidas, a curto e médio prazos, sem qualquer planejamento de expansão, ou garantia de financiamentos adequados e de preços compatíveis com o da gasolina (por exemplo). Isso nos remete à ausência total de um sistema organizado que tenha pensado na proteção para a prevenção de crises sazonais que o setor atravessa constantemente.
Voltando à questão da matriz energética, é preciso haver uma coordenação inteligente, capaz de atrair novos investimentos e que ofereça aos investidores uma rentabilidade e baixos custo e risco econômico. Somente assim será possível despertar um maior interesse das empresas do agronegócio para a expansão dessa atividade. O que não se pode conceber é que empresas dessa importância possam deixar de investir na atividade de cogeração, sabendo que sempre possuiu longa tradição em seu portfólio na integração de seus três principais produtos: o açúcar, o etanol e a cogeração de energia.
RETORNO DA LIDERANÇA - Deverá haver uma conversa aberta entre os setores interessados, em pré-condições, e tendo como finalidade a construção de um novo futuro. A ação principal de articulação de todo o setor está nas mãos de seus entes que a representam. Necessitam redesenhar suas agendas e retornar a sua liderança no processo de novas mudanças. Isso significa rejuvenescer sua performance ante a de um mero fabricante de açúcar e etanol. Há que se assumir um novo papel na história do país e transformar o segmento do agronegócio em um grande investidor de energia.
No setor privado percebe-se um comportamento empresarial convencional, conveniente (?), de isolamento e competição, o que não é natural e salutar para um empreendedor que transformou o setor como sendo um dos principais polos de trabalho. Ao invés disso, deveria sim ceder um ambiente a um comportamento mais agressivo e cooperativo, valorizando uma conquista de décadas e que poderia e precisa expandir ainda mais. Avançar na produção de etanol, outras matrizes energéticas, a fim de consentir à crescente demanda e avalizar margens remuneratórias para todos os elos da cadeia produtiva, sendo uma delas, um incremento maior em cogeração.
MAIS PROPOSTAS - Por isso, há que se ter um novo padrão de produção. A exploração mais acentuada de uma nova atividade que é a utilização da biomassa, principalmente, com o uso da cana-de-açúcar. Para isso, é fundamental o envolvimento de novas diretrizes e decisões dos agentes públicos e privados, que assegurem a implementação de metas e a ininterrupção de seu crescimento sem risco de crises periódicas.
Para o setor público a meta deve ser abraçar um novo modelo de tratar a questão da energia da biomassa. Quando analisamos a capacidade formal para tratar esse assunto, constata-se a existência de uma enorme disseminação de administradores incumbidos do mesmo projeto, porém, sem a acepção de ideias articuladas para o cumprimento de metas de médio e longo prazo.
AGENDA ORGANIZADA - É preciso reduzir a dispersão do segmento. Para isso, é preciso que a cogeração de energia, em parceira com os setores público e privado, estabeleça uma agenda organizada, disponibilizando quais as principais estratégias a serem adotadas para que haja uma evolução eficaz. Buscar um plano definido de como transformar a forma de geração elétrica em produto de alta relevância para o mercado mundial pode ser uma solução.
Outra fonte renovável pouco explorada que poderia fazer parte da agenda dos envolvidos é o carvão vegetal, feito a partir de florestas plantadas. No entanto, esse tema tem sido deixado ao relento pelos responsáveis, pois está sob o abrigo do Ministério do Meio Ambiente, que, infelizmente, não tem o condão para tratar de assuntos advindos da biomassa.
Hoje, presenciamos uma situação onde não há de fato uma representatividade desses planos na agenda dos governos. Essa postura conservadora na análise das questões energéticas, por razões estratégicas, deveria fazer parte de todo um contexto regulatório, buscando superar tradições passadas e iniciar um novo processo de convencimento de mutação para uma nova realidade que é a difusão da nossa matriz energética como fonte renovável.
O Brasil, por seu conhecimento e experiência no assunto, já deveria há muito tempo, ser líder mundial na transformação de todo o processo, já que detém uma patente reconhecida mundialmente por meio do nosso etanol. Não obstante, precisamos difundir um novo paradigma, ou seja, um moderno programa de energia renovável, inclusive com a participação de outros países interessados em investir no fomento de novos negócios como uma alternativa de energia limpa e acessível como um todo.
*José Osvaldo Bozzo, consultor tributarista e sócio da MJC Consultores, formado em Direito, iniciou carreira na PwC. Foi também Sócio da BDO e da KPMG e professor de Planejamento Tributário na USP – MBA de Ribeirão Preto.

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